A
EDP Meia Maratona de Lisboa 2016 foi a minha 7ª meia-maratona. A minha primeira
meia-maratona tinha sido precisamente há 2 anos atrás, também a atravessar a
ponte 25 de abril.
Para
esta corrida este ano eu trazia um objetivo: correr os 21 km em menos de 1h56’.
Acho que o objetivo não era ambicioso, senão vejamos: 2h19’, 2h06’, 2h02,
1h59’, 1h56’, 1h56’ – este era o meu historial de tempos na distância dos 21
km. Desde a primeira meia-maratona em março de 2014, tinha vindo sempre a
melhorar o tempo, portanto parecia-me plausível querer baixar da 1h56’.
A
corrida teve lugar no dia 20 de março, um domingo, e nós chegámos a Lisboa no
sábado ao final do dia. Éramos um grupo de 9, ao chegarmos deixamos as coisas
no hotel e fomos jantar. Ao terminar o dia, combinamos as horas de sair do
hotel na manhã seguinte, para termos tempo de comer alguma coisa e apanharmos o
comboio que nos levaria ao outro lado da ponte, até à estação do Pragal.
No
dia da corrida, levados pelo comboio que apanhamos na estação de Entrecampos,
chegados à estação do Pragal, lá seguimos aquele imenso manancial de gente que
pareciam formigas alinhadas nos seus carreiros, como se algo invisível as comandasse.
Já
no tabuleiro da ponte houve então tempo para tudo: tempo para andar por ali de
um lado para o outro, tempo para sentar no chão ou num lancil e ficar a ouvir
música, tempo para fazer xixi numa das casas de banho disponíveis, tempo para
correr calmamente para diante e para trás aquecendo os músculos, os tendões e
as articulações, tempo para arrefecer e ter que se voltar a correr, tempo para
ver o helicóptero que nos sobrevoava filmando-nos com as imagens sendo
transmitidas em direto pela RTP, tempo para fazer um último xixi e ficarmos,
enfim, a apenas 15 minutos do sinal de partida.
Estava
uma temperatura muito agradável, entre o frio e calor diria que estava mais
para o calor que para o frio. Naqueles últimos minutos antes da partida,
olhamos para o relógio várias vezes, esperando ansiosamente pelas 10h30 para
começarmos a correr.
10h25,
olha-se mais uma vez para o relógio, escuta-se as conversas das pessoas em
redor. Cinco pessoas, mesmo à frente, combinam uma ida ao norte para a Meia
Maratona do Douro Vinhateiro.
10h27,
está quase, o helicóptero passa sobre nós mais uma vez, o speaker encarregue da
animação diz para acenarmos e todos fazemos isso, mais para que o tempo passe
rapidamente do que propriamente entusiasmados pelo ato em si.
10h29,
não tarda nada estamos a correr, dá-se mais um pulo ou dois sentindo os
músculos e também o nervoso miudinho que sempre antecede o tiro de partida.
10h30,
a multidão começa a avançar e percebemos que o tiro de partida já soou, pese
embora não o tivéssemos ouvido. Ainda demoramos uns minutos a cruzar a linha de
partida e então começamos a correr, devagar ainda, mas já é melhor que estar
parado.
Nesta
prova tinha decidido correr sem olhar para o relógio, tal como tinha feito na
última Corrida do Tejo, bem como na última Corrida de São Silvestre. Tal como
fiz nessas provas, iria correr apenas ouvindo o corpo, não me deixando
influenciar pela informação do relógio de pulso.
A partida nesta prova é sempre difícil dado o elevado número de participantes, mas penso
que a partir do meio da ponte já se corria a um ritmo mais ou menos decente
(entre 5’30’’ e 6’ por km).
Já
do outro lado da ponte, por volta do 8 km, começo a sentir bolhas em ambos os
pés. Tinha comprado recentemente ténis, não era a primeira vez que corria com
eles, mas era inegável que as bolhas ali estavam e em ambos os pés! Prossegui a
pensar como é que me ia aguentar durante mais 13 kms se já estava a sentir
bolhas nos pés.
Também,
mais ou menos por esta altura, começo a aperceber-me de que tinha arrancado
depressa demais para quem ia correr 21 kms e não 10 ou 15. Começam a passar-me
todo o tipo de pensamentos pela cabeça, sendo o da desistência da prova o mais
radical de todos.
Levado
por aquele rio de gente que parecia correr sem razão, como se todos tivessem
sido previamente programados para o fazerem, continuei e por volta do 13 km
cedi: encostei-me ao lado, deixei de correr e passei a andar apenas. Andei
cerca de 600 metros, o que me permitiu arrumar ideias na minha cabeça e
descansar um pouco. Claro está que, logo ali, deixei cair por terra o objetivo
de fazer a prova em 1h56’.
Enquanto
caminhava ia olhando para os corredores que passavam por mim e procurava
identificar alguns daqueles que tinham vindo comigo a Lisboa para esta prova.
Eles passavam às dezenas, parecia ser difícil olhar para todos, mas a cor das
camisolas iria ajudar de certeza, só tinha que estar atento a camisolas rosa
escuro. Bastava-me identificar um, colava-me e iríamos juntos até ao final.
Infelizmente
não consegui identificar nenhum amigo, nem um! Lá teria que fazer o resto da
prova apenas baseado na minha determinação, na minha força de vontade e na
minha decisão de terminar.
Recomecei
a correr, mas a um ritmo bastante abaixo daquilo que tinha feito até ao 13 km.
O objetivo já só era terminar, o resto já não importava.
As
bolhas não me davam tréguas, mas já tinha passado o ponto de não retorno e,
portanto, restava-me apenas esforçar-me para chegar o mais depressa ao final.
Quanto mais rápido terminasse, mais rápido daria descanso às pernas, aos pés, a
tudo!
Quando
estamos no estado de espírito em que eu estava, o 17,5 km é muito duro. É
aquele ponto em que voltamos para trás em direção à meta, de onde viemos, e pensamos
“agora, tenho de fazer isto tudo de volta até terminar”.
Mas
tinha de ser e, como diz o povo, o que tem de ser tem muita força. Faltavam 3,5
km, não era? Portanto, era 3,5 km que eu tinha de correr. De facto, aqueles
últimos 2 kms, não tendo sido brilhantes, foram os menos maus de entre os
piores.
Chegado
ao fim, ficaram para a posteridade 21 km corridos em 2h05’22’’.