quinta-feira, 17 de novembro de 2016

O que será preferível?

Já faz alguns meses que estou a ler o livro Como ler um escritor por John Freeman. O livro consiste numa série de entrevistas a 55 escritores mais ou menos conhecidos. Cada capítulo uma entrevista a um escritor.

Um dos escritores entrevistados é Salman Rushdie que diz o seguinte «Uma das consequências do modernismo foi o aparecimento da ficção de entretenimento, com histórias apaixonantes que se liam de um fôlego. mas sem outras qualidades. E depois havia o chamado romance literário, que possuía todas essas virtudes, mas não contava uma história.»

No mundo dos livros, o melhor dos dois mundos (passe a redundância) acontece quando o romance literário conta uma história, o que é algo verdadeiramente único, precioso e que nos marca para a vida.

terça-feira, 1 de novembro de 2016

Crónica de corrida - Meia Mamamaratona 2016


No passado dia 16 de outubro teve lugar, em Portimão, mais uma Mamamaratona, com duas provas de corrida associadas – uma de 10,5 km e outra de 21 km. A prova tem este nome em alusão ao cancro da mama, cujo dia mundial se celebra a 19 de outubro, sendo que o valor da inscrição revertia a favor da Associação Oncológica do Algarve.

A partir de agosto comecei a pensar nesta prova, mas sem saber por que distância iria optar. Por um lado, optar pelos 10,5 km seria mais confortável. Por outro, optar pela distância da Meia Maratona seria um desafio maior, para além de que eu ainda queria correr mais duas “meias” este ano.

Entrou o mês de setembro e os meus treinos ao fim de semana começaram a se alongar na distância, não fosse eu vir a optar pela distância maior.

Chegados a outubro e à altura de me inscrever na prova, a indecisão mantinha-se: contra os 21 km estava o percurso da prova (duas voltas de 10,5 km) que não me agradava nada; a favor, estava o facto de me andar a sentir muito bem nos treinos longos. O desafio acabou por puxar por mim – ia completar a minha nona meia maratona.

Dia da prova: eram 9 horas e estávamos a entrar em Portimão. Já com o carro estacionado, lá nos dirigimos para o local do aquecimento, onde já muita gente estava e onde alguns mais atrasados recolhiam ainda os seus dorsais.

Tirámos fotos, cumprimentamos alguns conhecidos e aspiramos o ambiente descontraído que se vivia. Para além das duas provas de corrida havia também uma caminhada de 8 km, sem qualquer caráter competitivo e ali, naquele momento, o ambiente que se vivia era sereno e descontraído.

Com o aquecimento feito, eram 9h50 e lá fomos para a zona de partida. A Maria João ia participar na caminhada de 8 km e ficou um pouco mais para trás. Já eu, procurei furar um pouco aquela massa de gente que já se juntava ali e que pareciam querer arrancar logo entre os primeiros. Perfeitamente compreensível aliás, não fossem muitas daquelas pessoas participantes na caminhada e que, ali plantados no meio dos corredores, quando soasse o tiro de partida, iriam apenas estorvar quem começaria logo a correr. Enfim…

A partida deu-se um ou dois minutos depois das 10h e a maneira como arranquei foi decisiva para o resto da prova, o que me permitiu alcançar o meu melhor de tempo na Meia Maratona.

Logo nos primeiros dois quilómetros deixei-me ir com dois amigos que iam apenas fazer os 10,5 km. Pensei “o ritmo deles é que é o ideal para mim, se entrar em grandes maluqueiras agora, pese embora me sinta bem, posso vir a pagar a fatura mais tarde”.

Logo mais, descolei dos dois amigos com que iniciei a corrida e procurei assumir o meu ritmo, atento ao corpo, procurando ajustar o ritmo ao maior ou menor cansaço que o corpo acusasse.

Chegados aqui é importante dizer que não tinha grandes expetativas para esta corrida. Isto é, estava humildemente expectante. Antes da prova alguém me perguntou se eu estava em forma. Respondi “se estou em forma, não sei; se me perguntares se tenho treinado, sim, tenho treinado; se me perguntares se me ando a sentir bem, sim, ando a sentir-me muito bem; agora, se estou em forma, não sei, vamos ver, prognósticos só depois do jogo, como dizia o outro”.

Portanto, sentia-me bem, tinha treinado, estava motivado, mas o percurso tinha algum desnível e talvez não fosse fácil de melhorar o meu tempo de 1h56’04’’. No entanto, impossível também não seria.

Como disse antes, os 21 km seriam feitos em duas voltas de 10,5 km cada. De acrescentar também que cada volta consistia em ir e vir pelo mesmo caminho, isto é, cada volta consistia aproximadamente em 5,25 km para um lado e regressar ao ponto inicial.

Logo mais na corrida os primeiros classificados começam a regressar, uns mais lançados – os que iam correr apenas 10,5 km – outros não tanto – os que iam correr os 21 km – mas rápidos na mesma, vinham no encalço dos primeiros. Aproveitei para encorajar aqueles que eu conhecia, com as palavras da ordem: “força”, “bora lá”, “vamos lá”, para além de utilizar o nome próprio de cada um também.

Chegou a minha vez de voltar também para trás – estava percorrido ¼ da prova e sentia-me muito bem. Era continuar assim naquele ritmo, abrandar um pouco se fosse necessário, e a prova tinha tudo para continuar a correr bem.

Um pouco mais adiante, perto do 7 km, apanhei mais dois amigos que iam correr os 10,5 km. Ainda fiquei com eles um minuto ou dois, trocámos algumas frases, mas acabei também por descolar deles e prosseguir. Sentia-me mesmo confortável e só pensava que, se continuasse assim, as hipóteses de baixar da 1h56’ eram muito boas.

Por volta do 10 km, quase no fim da primeira volta, apanhei duas meninas / senhoras a quem me colei um pouco e perguntei “estão para os 21 km ou para os 10,5 km?”, responderam que iam a fazer a meia, então perguntei “e têm objetivo de tempo ou é só para chegar ao fim?”, responderam que só queriam chegar ao fim. Pensei que talvez não fossem a melhor companhia, o meu objetivo não era apenas chegar ao fim. Também descolei delas.

Chegado ao fim da primeira volta, levava 57’05’’ de corrida, o que dava uma média de 5’21’’/km – “fantástico”, pensei, “mesmo com estas subidas e descidas, mas nada de entrar em euforias, ainda tenho mais outros 10,5 km para correr”.

Ao entrar na segunda volta, a prova ficou repentinamente mais solitária. A maioria dos participantes iam correr os 10,5 km e esses já tinham ficado para trás. Agora na estrada estávamos apenas os que íamos correr os 21 km.

Por volta do 13 km apanhei uma corredora com quem meti conversa e que me disse que tinha como objetivo fazer menos de 1h56’, respondi que esse também era o meu objetivo e que, se mantivéssemos aquele ritmo, íamos por certo conseguir. Como eu levava um ritmo um pouco mais rápido, acabei por prosseguir sozinho.

Mais adiante, passei um corredor a quem deixei uma palavra de encorajamento, mas, se bem recordo, acho que não ouvi nada dele em troca.

Chegado a metade da 2ª volta, aconteceu uma situação curiosa. Era o ponto de regresso, o ponto em que entrávamos no último quarto da corrida para fazer os últimos 5,25 km em direção ao final. Ora, um pouco antes do ponto em que dávamos a volta havia um ponto de abastecimento, eu recolhi uma garrafa de água e continuei a correr. Abri a garrafa e comecei a beber. Acontece que ia tão concentrado, que passei o ponto de voltar para trás! De facto, deixei de ver os cones laranja que faziam a separação das duas vias em que se corria e comecei a estranhar e foi aí precisamente que ouvi alguém chamar lá atrás “ei, é por aqui!”

Lá voltei para trás e ainda brinquei com algumas pessoas da organização que por ali estavam dizendo “Então, isto não é a maratona? Eu pensava que eram 42 km!”    

Entretanto, apercebi-me que tinha sido ultrapassado pela corredora do 13 km – a que queria fazer 1h56 – mas foi apenas uma questão de uns 2 ou 3 minutos até a apanhar novamente.

Prossegui, sozinho, e passei outro corredor talvez por volta do 17 km.

Ao 18 km sou apanhado por um corredor que levava um bom ritmo. Ia claramente mais rápido que eu. Lembro-me que lhe disse qualquer coisa, não me recordo exatamente o quê e ele perguntou “quer vir comigo?” ao que respondi “não, deixe estar, obrigado, estou bem neste ritmo”.

Ao 19 km alcancei outro corredor com quem também meti conversa. Mais tarde vim a saber que se chamava António Lourenço. Juntos fizemos os 2 km que faltavam, falámos sobre os objetivos para aquela prova, de onde éramos e dos nossos tempos nas meias maratonas que já tínhamos concluído. Reconheço que, naquele ponto da prova, ter companhia até ao final é de uma grande ajuda.

Entramos no último quilómetro e aqui há que tirar o chapéu à corredora pela qual passei duas vezes e que queria fazer 1h56. Ela passou por mim e pelo António a cerca de 500 metros da meta e chegou à nossa frente.

Nos últimos 50 metros, eu e o António aceleramos um pouco e cruzamos a meta mesmo lado a lado com um tempo de 1h54’30’’.

Para mim, esta prova foi particularmente desafiante por alguns detalhes: um percurso que não era do meu agrado, algumas subidas e descidas, uma participação reduzida na distância dos 21 km, o que levaria (como de facto se veio a verificar) correr praticamente sozinho uma boa parte do caminho.

Por outro lado, foram vários os motivos de satisfação nesta prova: apesar dos pontos que tornavam esta prova um desafio, ter melhorado em cerca de 1’30’’ o meu tempo na distância dos 21 km e ter feito toda a prova a um ritmo constante – a média da primeira volta (5’21’’/km) foi exatamente igual à média da segunda volta.

Em jeito de conclusão, dizer apenas que foi a primeira prova que corri pela equipa da Sociedade Portuguesa de Esclerose Múltipla, envergando a camisola vermelha característica da equipa. Talvez por isso, foi uma prova com um sabor especial.